O mês de junho carrega uma cor simbólica que vai além das campanhas tradicionais: o vermelho. Criado para ampliar a conscientização sobre a importância da doação de sangue, o Junho Vermelho se consolidou como um movimento nacional de incentivo à solidariedade, à empatia e ao compromisso com a vida. E, nesse cenário, a atuação médica vai muito além do consultório – ela se estende como um elo fundamental entre a informação qualificada e a mobilização social.
A realidade atual dos estoques de sangue no Brasil
Segundo dados do Ministério da Saúde, menos de 2% da população brasileira doa sangue regularmente, um número abaixo do ideal recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que sugere pelo menos 3% da população como índice mínimo para manter os estoques em níveis seguros. Em períodos de inverno e férias escolares, os estoques chegam a níveis críticos, colocando em risco o atendimento a pacientes em cirurgias, tratamentos oncológicos, partos, acidentes e outras situações emergenciais.
O Hemorio, principal banco de sangue do estado do Rio de Janeiro, registrou em 2023 uma queda de mais de 30% nas doações durante o mês de junho, justamente o período mais crítico do ano. Isso evidencia a necessidade constante de campanhas de incentivo e, principalmente, de uma rede de profissionais de saúde engajados na conscientização ativa da população.
O impacto da doação: cada bolsa pode salvar até quatro vidas
Cada doação de sangue pode beneficiar até quatro pessoas, uma vez que o material coletado é fracionado em componentes como hemácias, plaquetas, plasma e crioprecipitado, sendo utilizados em diferentes tratamentos. Pacientes com doenças hematológicas como leucemia, anemias graves, hemofilia e outras condições crônicas dependem do suprimento contínuo de sangue para sobreviver.
Em situações emergenciais, como grandes acidentes, partos com hemorragia ou cirurgias de alta complexidade, a disponibilidade imediata de sangue pode determinar o sucesso do atendimento. A ausência de estoques representa risco direto à vida dos pacientes, transformando a doação em um verdadeiro ato de salvar vidas.
O médico como agente de confiança e incentivo
O papel do médico não se limita ao diagnóstico e tratamento: ele é, muitas vezes, a figura de maior confiança do paciente. Por isso, o médico tem um poder enorme de influência quando o assunto é incentivar comportamentos preventivos e ações solidárias, como a doação de sangue.
Durante consultas de rotina, retornos ambulatoriais ou até mesmo no contexto hospitalar, o médico pode e deve abordar a doação de sangue como um gesto necessário e seguro. A escuta atenta e a explicação clara de como funciona o processo de doação contribuem significativamente para desmistificar medos e dúvidas comuns, como o receio de fraqueza após a doação ou medo de agulhas.
Além disso, médicos que doam sangue e compartilham esse hábito com seus pacientes e colegas de profissão tornam-se exemplos práticos do engajamento necessário para que a doação se torne parte da cultura da saúde.
Educação em saúde e combate às fake news
O conhecimento técnico dos profissionais de saúde é uma arma poderosa contra a desinformação, que ainda afasta muitas pessoas da doação de sangue. Um exemplo comum é o mito de que doar sangue pode “afinar” o sangue ou provocar ganho de peso — inverdades que circulam com frequência, especialmente nas redes sociais.
Campanhas de conscientização que contam com médicos como protagonistas tendem a ser mais eficazes. A linguagem clara, embasada em evidências e transmitida por alguém com credibilidade científica, pode quebrar barreiras culturais e reforçar a importância da doação como uma responsabilidade coletiva.
Barreiras que o médico pode ajudar a vencer
Além das fake news, há obstáculos práticos e emocionais que impedem a doação. Muitos pacientes têm dúvidas sobre sua própria elegibilidade para doar sangue, especialmente pessoas com histórico de doenças crônicas, uso de medicamentos ou condições específicas de saúde. Nesse ponto, o médico tem papel essencial em esclarecer essas dúvidas e orientar corretamente, inclusive encaminhando o paciente a um hemocentro para avaliação mais aprofundada, quando necessário.
O medo da agulha ou do procedimento em si também pode ser combatido com orientação e empatia. O médico, ao normalizar o tema nas conversas e trazer exemplos reais, pode ajudar a tornar a doação de sangue algo mais familiar, acessível e menos assustador.
Médicos como protagonistas em campanhas de mobilização
Instituições de saúde que promovem ações internas, como mutirões de doação ou semanas temáticas, têm maior chance de engajar seus colaboradores e pacientes. Quando médicos assumem esse protagonismo, seja falando sobre o tema em suas redes sociais, participando de eventos em hemocentros ou até doando em grupos, eles fortalecem o senso de comunidade e reforçam que a saúde é um compromisso coletivo.
Na Líder Med, por exemplo, temos reforçado o papel dos médicos não apenas como especialistas em suas áreas, mas como influenciadores de boas práticas em saúde. A valorização da medicina solidária começa dentro de casa e se expande para a sociedade como um todo.
Como engajar pacientes?
A conversa sobre doação de sangue pode ser inserida naturalmente em contextos como:
- Consultas de rotina, especialmente com pacientes saudáveis;
- Acompanhamentos em saúde preventiva;
- Palestras e rodas de conversa em hospitais e clínicas;
- Redes sociais com linguagem acessível e depoimentos reais.
Fornecer informações simples, como onde doar, horários, cuidados antes e depois da doação, além de compartilhar links de agendamento em hemocentros, pode facilitar o processo e estimular a ação.
Junho Vermelho: um convite à mobilização
A campanha do Junho Vermelho é mais do que uma ação simbólica. É um apelo por empatia, compromisso social e valorização da vida. E nesse cenário, o médico é um dos principais agentes de transformação.
Ao incentivar a doação de sangue, o médico estende sua missão de cuidar além das fronteiras do consultório e se torna uma ponte entre o conhecimento científico e o engajamento da sociedade.
A doação de sangue salva vidas — e o incentivo pode começar com uma simples conversa. Que neste Junho Vermelho, mais médicos se engajem e ajudem a espalhar essa mensagem vital.